A dor pélvica é uma condição relativamente comum que afeta mulheres no mundo todo por diferentes motivos.
Pode acontecer como um quadro agudo, ou crônico se persistir por mais de 6 meses, e levar a consequências negativas emocionais, comportamentais e físicas. Nos casos crônicos, representando 10% a 20% das consultas ginecológicas, é comum a indicação de procedimentos para diagnóstico da causa e até mesmo cirúrgico.
Esse tipo de dor está super associado a causas como doença inflamatória pélvica aguda, endometriose, síndrome do intestino irritável, constipação crônica, hérnias, infecção urinária, cálculos renais, dores musculares, dor em nervos, depressão, e outras.
Especialmente na doença inflamatória pélvica (DIP) é importante ressaltar que 1/3 das mulheres com esta condição pode evoluir para a dor pélvica crônica e que também é uma das principais causas de infertilidade nas mulheres.
Mas calma! A DIP é causada principalmente pela infecção vaginal de Clamídia e Gonorreia que sobe para o órgão reprodutor e pode causar infertilidade. Além disso, as mulheres infectadas tem maior risco de adquirir e transmitir o HIV, causador da AIDS, e o HPV, principal causador do câncer de colo de útero. Daí, a importância de se prevenir, diagnosticar e tratar as infecções genitais!
Quanto à Clamídia, trata-se de uma bactéria com comportamento silencioso que na maioria das vezes não causa sintomas e está presente em até 25% das mulheres, o que mostra a necessidade de rastreamento das pacientes de risco, principalmente as mulheres com vida sexual ativa.
A pesquisa de Clamídia é recomendada uma vez ao ano ou toda vez que houver mudança de parceiro, no início do pré-natal, antes de procedimentos cirúrgicos ou exames do útero e em pacientes com diagnóstico de outras infecções sexualmente transmissíveis e quadros inflamatórios crônicos do colo uterino ou da vagina.
Já a gonorreia pode causar infecções da uretra (entrada do trato urinário) e do colo uterino levando a DIP. O que tem em comum com a clamídia? A gonorreia também é uma bactéria e frequentemente são assintomáticas nas mulheres. Apesar de ser sintomática na maioria dos homens, pode causar, além dos quadros de dor pélvica crônica e infertilidade, a artrite gonocócica, uma complicação devido a falta de tratamento adequado da infecção vaginal.
Muitas vezes, as pessoas portadoras da gonorreia também podem estar infectados com a Clamídia.
É preciso ainda citar outros agentes infecciosos como Tricomonas, Ureaplasma e Mycoplasma que podem ocasionar infecções vaginais e levar a quadros de doença inflamatória pélvica .
Muito se fala hoje em dia sobre microbioma, a comunidade de microorganismos que podem ser encontrados nas superfícies corporais, como boca, intestino, vagina, pele e olhos. Acredita-se que o desequilíbrio do nosso microbioma possa gerar mecanismos que levam a ocorrência de diversas doenças. Estudos a respeito de microbioma tem sido feitos em diversas áreas, tentando explicar melhor a ocorrência e o tratamento de doenças, como por exemplo a síndrome do intestino irritável.
Dessa forma, o microbioma vaginal tem sido alvo de pesquisas científicas, especialmente pelo fato da vagina possuir um rico ecossistema contendo bilhões de microorganismos. Mudanças na flora vaginal podem tornar a mulher vulnerável a contrair doenças e infecções bacterianas. Por isso, o teste do microbioma vaginal é de grande relevância para a saúde e o estado reprodutivo da mulher. Por exemplo, o desequilíbrio da microbiota pode predispor mulheres com endometriose a apresentar doença inflamatória e dor pélvica, por alterações do sistema imunológico, incluindo a capacidade de eliminar bactérias que causam doenças.
Hoje, o maior foco para evitar o surgimento de dor pélvica devido a doença inflamatória pélvica por infecções sexualmente transmissíveis está na educação sexual e prevenção da transmissão de doenças, sendo o diagnóstico precoce e o tratamento adequado nossas maiores armas para combater o avanço dessas doenças.
Faça seus exames, procure a orientação de seu médico e mantenha sua saúde vaginal em dia. Lembre-se: prevenir, diagnosticar e tratar. Esse é o caminho!
Fontes: Febrasgo, CDC, OPAS, Cochrane Database of Systematic Reviews, NCBI
Doutora Silvia Leite, CRM-SP 136.065 Clínica Prolumi (uma Clínica See Me 🌻)